Neste texto, Andrea Zoli traz reflexões sobre a coragem que este período de pandemia nos exigiu além de complementar suas percepções sobre o projeto de leitura compartilhada do livro “O Poder do Agora” de Eckhart Tolle.
Uma palavra única e que traz tantas outras ações em conjunto.
Foi necessário coragem para enfrentar esse período que chamamos de isolamento.
Não estou aqui desvalorizando o que muitos sentiram como medo, insegurança, dores, perdas em vários aspectos. Estou aqui para falar sobre a coragem que cada um precisou para se enfrentar. Foram e ainda são momentos de escuridão total em pleno meio-dia.
A coragem que venho refletir é o ato de olhar para dentro e se conhecer.
Desde março de 2020 iniciamos um projeto de vivência que nos leva em águas turvas, em corredeiras sem controle, em abismos e a uma procura insana de conseguir a cura, ou pelo menos o controle para não perder a sanidade.
Muitos se uniram com o objetivo de descobrir uma vacina, enquanto outros se mobilizaram para encontrar conforto para aqueles acometidos pelo vírus. Nos reinventamos para estar perto – virtualmente, para acolher a dor do próximo, para gerenciar a doação de alimentos, roupas, de abrigo no nível físico e emocional.
Posso até dizer que fomos obrigados a olhar para o próximo e para dentro de si. Muitas vezes foi mais fácil olhar para aquele que precisava de algo e abandonávamos – novamente – o olhar para dentro.
E é por isso que iniciei meu texto falando de coragem.
Foi necessário coragem para olhar a nossa volta, olhar para dentro, olhar nossas imperfeições, aceitar nossas fraquezas, acolher o que nos dói. Coragem.
Então, como uma ação de sobrevivência, procuramos caminhos, métodos, fugas, cursos, hábitos que nos conforte, ameniza, maquia qualquer emoção aflorada que veio com esse período.
A partir desse ponto, quatro mulheres se uniram e deram vida a um projeto de leitura compartilhada por meio da internet. Foi um apelo do nosso íntimo. Não era para fazer algo pelo próximo apenas, era um apelo para nós, principalmente. E de forma desafiadora escolhemos como o primeiro livro para ler O PODER DO AGORA de Eckhart Tolle.
Iniciamos de forma improvisada, sem ensaios para ver o que acontecia. Sem muito roteiro, regras e afins, era para ser dessa forma, apenas com a coragem. Quatro mulheres que se encontravam uma vez na semana, abriam suas câmeras, e liam, com coragem.
Ao iniciar a leitura, logo no início, percebemos que a profundidade do assunto iria pedir concentração, força, acolhimento e mais do que nunca, coragem.
Ler para si é uma forma, ler em voz alta e em grupo emerge sensações e sentimentos que automaticamente nos faz mudar a postura, entonação de voz e se projetar em uma autoanálise que a alma tem que estar aberta para sentir, acolher e aceitar. E já adianto, também vai doer!
O livro demanda questionamentos entre passado, presente e futuro. Como nós, seres humanos vivemos cada período dessa referência. Temos os melancólicos que vivem no passado, os ansiosos que estão no futuro, e onde estão aqueles do presente?
São poucos aqueles que estão no presente. Isso vale para estar presente física e mentalmente. Nossos grandes conflitos internos estão nos momentos das extremidades, são parte da nossa existência, porém o momento presente usamos de forma tão efêmera para vivenciar o passado e/ou futuro que passa desapercebido, e com isso, desenvolvemos nossas frustrações, doenças emocionais que se materializam no corpo, e apenas respiramos a favor do próximo dia, o futuro.
Estar presente demanda coragem, estar presente demanda disciplina, pede autoconhecimento, obriga jogo de cintura, exercita o pensamento positivo, implora por respeito próprio.
E se sua opção é permanecer no passado ou no futuro, não se engane porque também é necessário coragem. Uma coragem às cegas, mesmo assim coragem.
Muitos trechos do livro e até capítulos inteiros foram difíceis de digerir, foram densos, ao ponto de concluir a etapa e não haver comentários, apenas nos olhávamos pela tela e concordávamos com a cabeça que o silêncio seria melhor para uma digestão lenta e profunda.
Trechos como “... nos piores momentos, a meditação pode te salvar...”, o autor já entrega a receita do bolo, e parece simples. E é, basta ter coragem!
A frase nos mostra o quanto é necessário olhar para dentro, para si, entender o que essa máquina fabulosa precisa, o que ela pede. Meditar é estar presente, é respeitar aquele momento para se conhecer.
Em outros trechos, as respostas eram tão óbvias que percebíamos o quanto estávamos fora do presente, respostas que estavam no nosso nariz, e sim, nos deparávamos com a sensação que até aquele momento foi provado que também vivíamos no passado ou no futuro.
Foi uma leitura desafiadora, pois nos colocávamos a prova para entender de que forma podemos estar presentes. Posso até tentar dizer que ainda tem trechos do livro que ecoam nos vários momentos do dia, mas de uma forma de alerta e sinaliza a necessidade de estar ali, ou aqui, presente.
Convido você para essa jornada de conhecimento com base no livro O Poder do Agora.
Tenha coragem de se olhar, se ajudar, de vasculhar espaços internos onde nunca recebeu luz e se permita a essa caminhada.
Talvez só a curiosidade possa ser útil, porém sugiro que traga coragem, para uma aventura única, pessoal e intransponível.
Andrea Zoli,
Jornalista e apreciadora de desafios que possam somar internamente.